Este artigo visa analisar o contexto atual de transição do mundo do trabalho, no qual os processos organizativos de reestruturação produtiva e flexibilização desarranjaram sua configuração ao fragilizar as instituições reguladoras da sociedade e romper com os paradigmas vigentes pela diluição das fronteiras psicossociais determinantes dos papéis e das identidades que são construídas na relação com o mundo. Partindo do pressuposto que o trabalho continua sendo central para a sociabilidade humana, podemos perceber que a flexibilização de sua forma tem causado experiências psicossociais significativas de ruptura de vida e que, se antes atingiam somente alguns grupos tradicionalmente excluídos, agora podem atingir potencialmente a todas as pessoas. Como forma de refletir sobre essa questão, traçou-se um paralelo entre a experiência tradicionalmente instituída de ruptura da crise psicótica e as novas vivências de ruptura sofridas pelo homem contemporâneo que se vê diante da modificação profunda das ocupações que exercia e do desemprego, concluindo que esse processo gera uma experiência psicossocial de ruptura biográfica semelhante em ambos os casos (guardadas as devidas especificidades) pela desfiliação, pela perda da referência no mundo das significações existentes, pela construção de trajetórias descontínuas de vida e pela necessidade de (re)estruturar laços sociais num mundo que dificulta essa ação.
This article intends to analyze the current transition context of world of the work, in which the organizing processes of productive reestructuring and flexibilization had disarranged its configuration. This process produced the society regulator weakness and the present paradigms rupture by the psychosocial borders’ dilution, which establish the roles and identities built in the relation with the world. Accepting the idea that the work continues to be central for the human being sociability, it can be evidenced that its flexibilization has caused significant psychosocial experiences of life rupture that reached only traditionally excluded groups decades ago and can potentially reach all the persons now. As a method to reflect about it, a comparison is proposed between the established rupture experience of the psychotic crisis and the new rupture experiences suffered by the contemporaneous man who lost his job or see it be deep modified. The study concludes that this process generates a similar psychosocial experience of biographical rupture in both cases as a result of the reference loss of the world sense, the construct of an intermittent biography and the need of structuring again the social link in a world that transforms this process into difficulty.