Abscesso piogênico do fígado e esquistossomose mansônica: observações no Estado do Espírito Santo

Abstract

Recentemente, foi demonstrado que a forma toxêmica da esquistossomose mansônica em crianças pode serfator predisponente para abscesso piogênico do fígado (APF). Como no Estado do Espírito Santo, a esquistossomose é endêmica em grande parte do estado e os APF são freqüentemente diagnosticados no Hospital Infantil Nossa Senhora da Glória de Vitória, realizou-se revisão dos casos de APF diagnosticados entre maio de 1991 e abril de 1994, com a finalidade de identificar-se os casos com infecção esquistossomótica e a sua procedêitcia. Identificaram-se 65 casos de APF e 39 apresentavam exame de fezes registrado no prontuário, sendo 3 positivos para Schistosoma mansoni e 29 positivos para outros helmintos intestinais, principalmente áscaris e tricocéfalo. A procedência dos pacientes mostrou que 7 (10,6%) eram provenientes de zona endêmica da esquistossomose. A associação APF e esquistossomose mostrou-se pequena e não há grande sobreposição na distribuição geográfica das duas doenças. Por outro lado a alta prevalência de infecção por outros helmintos intestinais e o grande número de abscessos piogênicos criptogenéticos diagnosticados, faz pensar que as infecções helmínticas com larvas que podem migrar para o fígado e formar granulomas, possam também ser um fator predisponente para o abscesso hepático em crianças.

Translated abstract

A possible association of the acute toxaemic form of schistosomiasis and pyogenic liver abscess (PLA) has been recently suggested. As in the west of the Espirito Santo state schistosomiasis is endemic and PLA are frequently diagnosed in the Children's Hospital of Vitória we reviewed the records of the Hospital during the period from May 1991 to April 1993 to: a) iddentify all cases of PLA in which Schistosoma mansoni infection was present and b) annotate the procedence of each case to verify if there is an association of the two diseases. 65 cases of PLA were recorded and 39 had the result of a stool examination, being three positive for Schistosoma mansoni (7,6%) and 26 for other helminth (mainly Ascaris and Trichocephalus). The procedence of the patients showed that only 7 (10, 7%) came from endemic areas. These results show that an asociation of Schistosoma mansoni infection and PLA was not significative in the country, where the acute toxaemic form is not frequent. The great majority of PLA in this study came from the urban peripheiy of Vitória, where transmission of schistosomiasis does not occur but intestinal helminth infections are extremely frequent. As 40% of these PLA were criptogenetic it is possible that the immunomodulation induced by intestinal parasites and the liver granulomas produced by the lamae of these helminths would be predisposing factors for pyogenic liver abscess.