Este ensaio discute as contribuições dos estudos pós-coloniais para a renovação da teoria social contemporânea. Considera-se, em primeiro lugar, o caráter da crítica que os estudos pós-coloniais endereçam às ciências sociais. Em seguida, discutem-se as alternativas epistemológicas que apresentam, considerando-se três concepções-chave - modernidade entrelaçada, lugar de enunciação "híbrido", sujeito descentrado. A conclusão é que, a despeito de sua contundência e da suspeita de alguns autores de que a teoria pós-colonial implode a base epistemológica das ciências sociais, boa parte da crítica pós-colonial tem como destinatário a teoria da modernização. Neste ponto, apresenta afinidades com objeções trazidas por cientistas sociais que nada têm a ver com o pós-colonialismo. Outros aspectos levantados pelos estudos pós-coloniais não desestabilizam, necessariamente, as ciências sociais, podendo mesmo enriquecê-las.
Cet article aborde les contributions des études postcoloniales à la rénovation de la théorie sociale contemporaine. Nous abordons, tout d'abord, le caractère critique des études postcoloniales par rapport aux sciences sociales. Nous analysons, ensuite, les alternatives épistémologiques présentées, suivant trois concepts-clés : la modernité entrelacée, le lieu d'énonciation hybride et le sujet décentralisé. Nous concluons que, malgré son caractère contondant et la défiance de certains auteurs, pour qui la théorie postcoloniale détruit la base épistémologique des sciences sociales, une bonne partie de la critique postcoloniale a, pour destinataire, la théorie de la modernisation. En ce qui concerne cette question, nous présentons les affinités existantes face objections soulevées par les scientistes sociaux, qui n'ont rien à voir avec le post colonialisme. D'autres aspects abordés par les études postcoloniales ne déstabilisent pas nécessairement les sciences sociales. Ils peuvent, au contraire, l'enrichir.
This essay discusses the contributions of post-colonial studies for renewing the contemporary social theory. At first it considers the character of the critique addressed by post-colonial studies to social sciences. After that, it analyses the post-colonial epistemological alternatives, considering three interrelated concepts: entangled modernity, "hybrid" site of enunciation, and decentralized subject. The conclusion is that, in spite of its severity and suspicion among some authors that post-colonial theory can destroy epistemological foundations of social sciences, an important part of post-colonial critique is rather addressed to the theory of modernization. Here, post-colonial positions present affinities with objections, which have already been presented by "conventional" social scientists. Other aspects raised by post-colonial authors do not destabilize, necessarily, social sciences; they can even enrich them.