Nas últimas décadas, tem-se observado um esforço de reconstituição de uma vertente do republicanismo cuja gênese remonta aos ideais e instituições da antiga República romana. Reconstruído por historiadores do pensamento político - e recentemente absorvido por teóricos de orientação analítica e normativa -, o "republicanismo neorromano" gira em torno de uma visão da liberdade como não dominação, alegadamente distinta da concepção de liberdade como não interferência, predominante no liberalismo contemporâneo. Compreendendo a liberdade como um "conceito essencialmente contestado", o artigo procura responder as seguintes questões: (1) Em que medida é defensável a tese dos neorromanos sobre rivalidade entre republicanismo e liberalismo enquanto tradições históricas singulares de pensamento político?, (2) Quais são as principais distinções conceituais entre a liberdade como não dominação e a liberdade como não interferência? Enquanto a primeira questão enquadra o debate sobre a liberdade do ponto de vista da história das ideias, a segunda o faz a partir de uma perspectiva analítica e normativa.
In recent decades, there has been a recovery of a strand of republicanism whose genesis dates back to the ideals and institutions of the ancient Roman Republic. Reconstructed by historians of political thought - and recently absorbed by theorists of analytical and normative persuasion - the "neo-Roman republicanism" revolves around a conception of freedom as non-domination, allegedly distinct from freedom as noninterference, predominant in contemporary liberalism. By understanding freedom as an "essentially contested concept", the article tries to answer the following questions: (1) To what extent is defensible the thesis (put forward by neo-Roman scholars) about the rivalry between republicanism and liberalism as single historical traditions of political thought? (2) What are the main conceptual distinctions between freedom as non-domination and freedom as non-interference? While the first question frames the debate on liberty from the point of view of the history of ideas, the second one does so from the normative and analytical perspectives.