RESUMO Este artigo analisa as relações de coexistência entre as práticas informais de cuidados realizadas nas periferias e as administrações de Estado. A etnografia foi realizada num complexo de favelas situado na Zona Norte do Rio de Janeiro. A análise procura ressaltar as dinâmicas de interdependência entre as casas de moradoras de favela que “tomam conta” de crianças e as creches públicas. A partir das reflexões sobre os cuidados transacionados nesses espaços, busca-se refletir sobre as ideias de dependência, Estado provedor, sexualidade e reprodução feminina. A complementaridade entre esses lugares aponta para a existência de relações de cuidados nas quais dinâmicas de vulnerabilidade, escassez e demanda por recursos sociais são elementos de disputa que remetem a processos de reprodução estratificada de desigualdades históricas de gênero, classe, sexualidade, território e raça.
ABSTRACT This article analyzes the relations of coexistence between informal care practices carried out in the peripheries in their interface with State administrations. The ethnography was carried out in a slum complex located in the North Zone of Rio de Janeiro. The analysis seeks to highlight the dynamics of interdependence between houses of slum dwellers who take care of “children” alongside public daycare centers. From the reflections on the care transacted in these spaces, we seek to reflect on the ideas of dependency, the provider state, sexuality and female reproduction. The complementary relationship between these places points to the existence of local care circuits in which relations of vulnerability, scarcity and demand for social resources are elements of dispute that refer to processes of stratified reproduction of historical inequalities of gender, class, sexuality, territory and race.