Nas últimas duas décadas, os estudos pós-coloniais tem avançado severas críticas a modelos de explicação sobre o desenvolvimento histórico em sociedades periféricas e pós-coloniais que se baseiam em um modelo de referências eurocêntricas. Em diálogo com essa literatura, este trabalho busca mostrar como o marxismo paulista das décadas de 1960 e 1970 buscou reconstruir aquelas estruturas categoriais e avançar modelos analíticos críticos a partir de um "ponto de vista periférico", uma vez que a crítica à modernidade brasileira é elaborada como momento de uma crítica à modernidade global. Este artigo mostra como aquele trabalho pioneiro de descolonização epistêmica pelas vias de uma leitura bastante local de Marx fornece pistas para uma ciência social e uma crítica cultural pós-coloniais.
Au cours des deux dernières décennies, les études postcoloniales ont développé plusieurs critiques à l'égard des modèles d'explication sur le développement historique des sociétés périphériques et postcoloniales qui reposent sur un modèle théorique eurocentrique. En dialogue avec cette littérature, cet article prétend indiquer comment le "Marxisme Pauliste" des années 1960 et 1970 a cherché à reconstruire ces structures catégorielles et à faire progresser les modèles analytiques critiques à partir d'un "point de vue périphérique", puisque la critique à la modernité brésilienne s'est élaborée comme un moment de la critique de la modernité mondiale. Cet article met en évidence comment ce travail pionnier de décolonisation épistémique, élaboré au moyen d'une lecture assez locale de Marx, peut fournir des indices pour une science sociale et une critique culturelle postcoloniales.
The interdisciplinary field known as Postcolonial Studies has advanced a severe critique of traditional Eurocentric explanatory models of peripheral and postcolonial societies' historical development. In a dialogue with this literature, this paper shows how a Marxist scholarship developed in São Paulo during the 1960s and 1970s ("Marxismo Paulista") attempted to deconstruct Eurocentric categories and to propose critical analytical models from a "peripheral standpoint" - since the critique of Brazilian modernity was elaborated as a moment of a critique of global modernity. This paper also highlights how that groundbreaking work of epistemic decolonization - by means of a very local reading of Marx - provides elements for a renewed postcolonial social science and cultural critique.